O Brasil possui hoje cerca de 10 milhões de jovens, de 15 a 24 anos, fora da escola e do emprego. É praticamente a população de um país como Portugal ou Suécia. É muito difícil pensar um futuro possível para o nosso país sem o pacto da sociedade com os governos, com todas as instituições para o resgate de políticas públicas de integração dessa juventude.
Sabemos também que o nosso país é o que mais mata jovens, no mundo. E os jovens são também os que mais matam e os que mais morrem. Isso se alia à questão do descontrole das armas. Todos os dias, no Brasil, pelo menos 100 pessoas são assassinadas por armas de fogo. Somos os campeões mundiais de assassinato por armas de fogo.
Nós entendemos que a arma funciona como um vírus, como um vetor da epidemia da violência. Claro que o ser humano é agressivo. Ele tem uma parte violenta, mas o acesso à arma de fogo potencializa muito mais a violência letal. Você matar uma pessoa com uma faca ou outro instrumento é muito mais difícil do que com uma arma de fogo. Nós sabemo que a arma de fogo colabora enormemente com a progressão geométrica e o crescimento da nossa violência. Em países onde há controle de armas, onde é proibida a posse e o porte, o índice de morte violenta é bem menor.
Há uma estimativa da Polícia Federal de que existem pelo menos 17 milhões de armas em circulação no nosso país. É quase uma arma para cada 10 cidadãos. E é uma ilusão achar que a arma é um elemento de segurança. É provado por estatísticas científicas internacionais que se você reage a um assalto, a uma invasão da sua casa, você tem 17 vezes mais chance de ser morto ou gravemente ferido.
Acho que a campanha pelo desarmamento conseguiu mudar um pouco a percepção, a consciência do brasileiro de que a arma seja um grande objeto de segurança. Basta colocar aí uma série de estatísticas sobre acidentes em casa, sobre crimes passionais. Se não tivesse uma arma ali à disposição, não teriam ocorrido. Poderia gerar um soco no olho, uma surra, mas não um assassinato.
Agora, em relação aos jovens, há de fato um envolvimento direto deles na maioria dos crimes, mas é muito importante termos o cuidado para não ficar reproduzindo este sensacionalismo da mídia, colocando o jovem sempre como o algoz, como o grande problema da violência no Brasil. O jovem é justamente o futuro, a promessa. É muito perigosa essa criminalização da juventude do nosso país.
Nós entendemos que é da nossa cultura o brasileiro gostar de criança. Ele faz o que pode para ajudar as crianças. E isso se reflete nas políticas públicas. Daí que 94% das crianças estão matriculadas nas escolas. Por outro lado, não gostamos do adolescente, do jovem. O adolescente é sinônimo de problema. Essa é uma questão cultural, que é muito importante ser transformada. Que a sociedade encare o desafio da inserção do jovem, da inclusão do jovem, para a humanização do atendimento a esse adolescente, a esse jovem.
André Porto,
da ONG Viva Rio, coordenador do Projeto Caravana,
comunidade segura, Rio de Janeiro, RJ.
Endereço eletrônico: andre@vivario.org.br
(Fonte: www.mundojovem.pucrs.br)
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